Introdução

Mulher no escritório (Por Andrea Piacquadio em Pexels.com )
O trabalho decente depende de um mercado de trabalho que proporcione oportunidades iguais e igualdade de tratamento para todos. No entanto, a diferença salarial global entre homens e mulheres é de cerca de 20%. Em muitas situações, apesar de as mulheres exercerem a mesma profissão que um homem, o seu salário é inferior, mesmo que tenham um nível de educação igual ou mesmo superior ao dos homens (ONU, 2019). Por outro lado, os jovens no início das suas carreiras podem também enfrentar discriminação com empregos mal remunerados.
A nível mundial, um em cada cinco jovens é NEET (Não tem emprego, educação ou formação). Muitos destes jovens podem mesmo estar a contribuir para o mercado não remunerado, especialmente as mulheres jovens (por exemplo, estágios não remunerados) (OIT, 2020). Dentro deste contexto, muitos jovens preferem trabalhar num emprego mal remunerado do que estar desempregados. No entanto, os salários nem sempre são baixos. Os jovens que se especializam em profissões tecnológicas podem mesmo receber salários mais elevados do que os adultos com muitos anos de experiência.
Dado este contexto, esta atividade propõe um jogo de simulação para confrontar as pessoas com as realidades do mercado de trabalho. Esta sessão aborda questões relativas a diferentes salários para o mesmo emprego, discriminação no local de trabalho com base na idade e género e políticas de baixos salários para os jovens trabalhadores.
Objetivos de Aprendizagem
- O estudante compreende o conceito de género, igualdade de género e discriminação de género e conhece as formas de discriminação e desigualdade de género (desigualdade de oportunidades de emprego e remuneração), e compreende as causas atuais e históricas da desigualdade de género.
- O estudante conhece as oportunidades e benefícios proporcionados pela plena igualdade de género e participação na legislação e governação, incluindo o mercado de trabalho.
- O estudante é capaz de reconhecer e questionar a perceção tradicional dos papéis do género numa abordagem crítica, respeitando ao mesmo tempo a sensibilidade cultural.
- O estudante é capaz de identificar e falar contra todas as formas de discriminação de género e debater os benefícios do pleno empoderamento de todos os géneros.
- O estudante é capaz de observar e identificar a discriminação de género.
- O estudante é capaz de avaliar, participar e influenciar a tomada de decisões sobre igualdade de género e participação.
- Competência normativa
- Competência de colaboração
- Competência de pensamento crítico
Instruções
Passo 1) Introdução (10 minutos)
Comece a sessão explicando o âmbito do projeto e o processo educativo em questão. O ODS 5 refere-se à igualdade de género - mostre um pequeno vídeo para introduzir o ODS (ver secção Recursos).
A igualdade de género é um direito humano fundamental e é uma questão transversal crucial para construir uma sociedade saudável, abandonar o ciclo da pobreza, e assegurar uma educação de qualidade para todos. A igualdade de género significa que todos são igualmente valorizados e que as suas necessidades, objetivos e comportamentos são considerados iguais. Homens e mulheres são diferentes na sua biologia, mas todos devem ser livres de se desenvolverem, fazerem as suas escolhas e participarem no processo de tomada de decisões nas suas comunidades.
Passo 2) Jogo de simulação (30 minutos)
1. Explique aos participantes que eles são trabalhadores e têm de fazer algum trabalho para o seu empregador (você!). Eles não devem preocupar-se; todos serão pagos pelo trabalho.
2. Distribua uma etiqueta ao acaso, uma a cada participante (ver secção de recursos).
3. Explique a tarefa e certifique-se de que todos sabem o que têm de fazer.
4. Deixe os estudantes começarem o trabalho!
5. Quando as tarefas estiverem todas concluídas, peça às pessoas que façam uma fila para serem pagas. Pague a cada pessoa de acordo com a sua idade e sexo (descrita na etiqueta que foi distribuída a cada um), tal como estabelecido na lista de taxas salariais dos trabalhadores. Deve contar o dinheiro em voz alta para que todos possam ouvir e todos estejam conscientes de quanto cada um dos outros está a receber (como alternativa ao dinheiro, pode dar chocolates ou doces ou dizer que dará alguns pontos extra no próximo teste de avaliação, numa proporção que reflita as diferenças de cada personagem)
6. Se os participantes começarem a questionar ou queixar-se, dar breves "razões", mas evitar que haja discussão.
7. Terá de usar o seu próprio julgamento sobre até onde deve ir, mas pare quando achar que está a começar a aquecer demais! Dê a todos tempo para se acalmarem e saírem do papel, e depois sentem-se em círculo para o debriefing e avaliação.
Passo 3) Debriefing e Avaliação (20 minutos)
Facilite a discussão por etapas. Comece com uma revisão da própria simulação:
- Qual foi a sensação de receber mais (ou menos) do que outros trabalhadores, apesar de todos terem feito exatamente a mesma tarefa?
- Porque é que algumas pessoas receberam mais (ou menos) do que outras? Quais eram os critérios?
- Este tipo de discriminação acontece nos locais de trabalho do seu país ou comunidade?
A seguir, explore a questão da remuneração com base no género:
- Pode justificar-se uma remuneração diferente para o mesmo trabalho, quando feito por um homem e uma mulher? Porquê? Porque não? Quando?
- E se um homem faz o trabalho melhor do que uma mulher? Será essa razão suficiente para pagar menos à mulher?
- Se um homem for mais qualificado do que a mulher, será que deve receber mais?
- Acham que há trabalhos que devem ser feitos exclusivamente por homens? Porquê? Porque não? Se sim, que empregos?
- Acham que há trabalhos que devem ser feitos exclusivamente por mulheres? Porquê? Por que não? Se sim, que empregos?
Por último, explore a questão da remuneração com base na idade:
- Existe no seu país uma política de salários diferentes com base na idade? Em caso negativo, acha que deveria haver?
- Qual é a razão para aplicar este tipo de política, especialmente no caso dos jovens?
- O que pensa sobre este tipo de política? É boa? Má? Necessária? Desnecessária? Dê razões.
- Quais os direitos humanos que foram violados ou estão em jogo na atividade?
- Como podem as pessoas reivindicar estes direitos?
- CALL TO ACTION 1
Em muitas situações, as mulheres ganham menos do que os homens pelo mesmo trabalho. A desigualdade salarial persiste em todo o mundo. Dê voz pelo direito de salário igual para trabalho igual. Faça um diagnóstico desta realidade no seu país. Desenvolva uma campanha online com alguns factos sobre isto: Em que profissões e nível académico é que as mulheres ganham menos? Quais são as causas? O que as pessoas podem fazer para reduzir estas desigualdades?
- CALL TO ACTION 2
Realize entrevistas a mulheres com cargos de gestão no setor público e/ou privado para conhecer a sua história, os desafios que tiveram de superar para chegar ao lugar onde chegaram e os conselhos que dão às mulheres jovens e aos jovens em geral que vão entrar no mercado de trabalho. Peça a ajuda de um tutor para o apoiar na construção da entrevista. Pode fazer um pequeno documentário ou outra peça jornalística. Divulgue os resultados na sua escola e nas redes sociais.
Requisitos
- 1 cópia do documento "Salários dos trabalhadores" (ver secção dos recursos)
- Etiquetas, uma para cada participante/trabalhador
- Fichas que representem dinheiro. Pode utilizar o dinheiro do "Compass" (ver secção dos recursos). Em alternativa pode levar chocolates ou rebuçados...
- Computador
- Ligação à Internet
- Projetor
Notas para Educadores
Tempo estimado total: 1 hora + Call to Action
Preparação
- Esta atividade é possível ser realizada com um mínimo de 6 estudantes.
- Prepare as etiquetas. Estas devem indicar apenas o sexo e a idade dos trabalhadores. Utilize a lista de salários dos trabalhadores como referência.
- Pense numa tarefa concreta que os participantes podem fazer, se possível, relacionada com a área de estudo do curso profissional. Prepare todos os equipamentos ou materiais necessários para os estudantes realizarem o trabalho.
Dicas para Educadores
Se precisar de acrescentar ou eliminar alguns trabalhadores da lista, certifique-se de que ainda tem um equilíbrio de sexos e pessoas de idades diferentes. Se o grupo for grande ou se quiser promover uma discussão mais profunda sobre os dois tipos diferentes de discriminação, pode dividir o grupo em dois subgrupos. Um grupo pode assumir a tarefa de discutir a discriminação baseada no género e o outro a discriminação baseada na idade.
Que tipos de tarefas são adequadas para esta atividade? Deve ser exatamente a mesma tarefa para cada trabalhador. Tente também escolher algo que possa ser feito por várias pessoas ao mesmo tempo, para que não se torne aborrecido enquanto esperam. Pode pensar nas seguintes questões:
- Se quiser ir para o exterior, pode ser em que época do ano?
- Tem espaço?
- Pode ser feito igualmente e facilmente por pessoas de diferentes idades e tanto por homens como por mulheres?
- É seguro?
- As pessoas sentir-se-ão envergonhadas ou recusarão por razões éticas?
- Quanto tempo vai demorar?
-
Será que requer muitas competências?
Alguns exemplos de tarefas:
- Limpar o quadro preto/branco e escrever claramente uma determinada frase no mesmo.
- Tirar os livros de uma prateleira e colocá-los numa caixa. Leve a caixa para o outro lado da sala e retire os livros numa segunda prateleira.
- Fazer um origama (um avião ou chapéu)
- Limpar a sala de aula ou uma área definida no exterior
- Recolher o lixo de uma área definida na vizinhança.
- Lavar as janelas da escola / edifício onde se encontram ou lavar os carros dos professores / formadores!
- Recolha três tipos diferentes de folhas e coloca-as num pedaço de papel.
- Procurem a definição de uma palavra e escrevam-na num pedaço de papel. (Se escolher palavras diferentes, cada uma relacionada com direitos humanos, então no final poderá ter um pequeno glossário de termos!)
Quando estiver a pagar e tiver de dar explicações sobre os diferentes salários, terá de pensar em "razões". Podem ser fundamentadas no que realmente aconteceu ou podem ser ridículas. Por exemplo:
- Alguém que tropeçou recebe menos
- Alguém que sorria e parecia feliz recebe mais
-
É sexta-feira!
Variações
Em vez de o facilitador pagar o dinheiro, dois participantes podem ser os caixas.
Dependendo da tarefa escolhida, é possível estabelecer um prazo para a conclusão, como por exemplo numa fábrica. Se a tarefa for muito simples, ou se tiver menos de seis jogadores, poderá ter três ou quatro rondas, representando cada ronda um dia de trabalho. Após cada ronda, os trabalhadores vão ao banco, assinam um documento e recebem o seu salário para o dia. Espere que alguns participantes se apercebam rapidamente de quão injustos são os salários e reclamem. Neste caso, poderá despedi-los e dizer aos restantes trabalhadores que terão de trabalhar mais arduamente. Esteja preparado para que, nesta altura, os trabalhadores possam chamar uma greve. Cuidado para que os participantes não se deixem levar e tenham a certeza de que se mantêm atentos aos objetivos de aprendizagem originais.
Se não achar apropriado fazer esta atividade como simulação, poderá adaptar a informação para ser utilizada como base de discussão. Faça uma 'ficha informativa' para cada trabalhador com informações sobre o trabalho que realiza, a sua idade, sexo e remuneração. Poderá também incluir outros detalhes, tais como formação e experiência profissional. Em alternativa, poderá desenvolver alguns estudos de caso aprofundados para diferentes trabalhadores. Contudo, deve estar ciente de que a discussão por si só não estimulará a forte resposta emocional que se obtém através da experiência da simulação.
Informação adicional
Como as mulheres ganham menos, em média, do que os homens, devem trabalhar mais tempo pelo mesmo montante de salário. Para ilustrar isto, o Dia Europeu da Igualdade de Remuneração acontece numa terça-feira porque este dia representa até onde as mulheres têm de trabalhar para igualar o salário que os homens ganham numa semana, ou seja, as mulheres têm de trabalhar mais dois dias.
As questões relativas à desigualdade de remuneração dos trabalhadores são diferentes nos diferentes países e também diferentes consoante se trate de discriminação em função da idade ou do sexo. A discriminação com base no género não é mais do que uma prova de discriminação contra as mulheres. Historicamente, as mulheres têm estado em desvantagem nas esferas social, política e económica. Exemplos de discriminação contra as mulheres no local de trabalho incluem a discriminação durante a seleção e entrevista dos candidatos a emprego, a discriminação em relação às perspetivas de promoção e o facto de, em média, receberem salários mais baixos do que os homens. É uma violação do direito a uma remuneração justa quando as mulheres recebem menos do que os homens por fazerem o mesmo trabalho.
Como trabalhadores, os jovens devem também receber uma remuneração justa. No entanto, aqui a situação é complexa e difere de país para país. Em geral, a taxa de desemprego dos jovens é mais elevada do que a dos adultos.
Embora o princípio de trabalho igual para salário igual seja geralmente defendido, a remuneração dos jovens é frequentemente considerada como um caso especial e muitos países têm políticas que permitem que os jovens trabalhadores tenham um salário menor do que um adulto pelo mesmo trabalho. Estas políticas são justificadas por dois motivos. Por um lado, há o objetivo de desencorajar os jovens a entrar de forma no mercado de trabalho e de os encorajar a permanecer na escola para obterem uma boa educação. Por outro lado, deve continuar a ser atrativo para os empregadores contratarem jovens trabalhadores inexperientes e pouco qualificados, especialmente de jovens que abandonam a escola, que de outra forma estariam "à solta nas ruas", entrando em problemas e sendo um fardo para o Estado. A aplicação deste tipo de política e o seu sucesso na diminuição do desemprego juvenil varia de país para país.
O Comité Europeu dos Direitos Sociais (o órgão de implementação da Carta Social Europeia) não considera os baixos salários dos jovens incompatíveis com a garantia de um salário justo, desde que a diferença seja razoável e que o fosso se feche rapidamente. Por exemplo, um salário 30% inferior ao salário inicial do adulto é considerado aceitável para jovens entre os quinze e os dezasseis anos de idade. Contudo, para os jovens de dezasseis a dezoito anos, a diferença não pode exceder 20%.
Os salários dos jovens nem sempre são baixos. Na realidade, há muitos jovens bem educados que ganham muito dinheiro - demasiado aos olhos de algumas pessoas! Por exemplo, os jovens prosperam nos setores baseados nas novas tecnologias e recebem uma remuneração muito mais elevada do que os trabalhadores mais velhos que estão perto da idade da reforma.
Fonte
COMPASS: Manual for Human Rights Education with Young People